Agências humanitárias apelam ao reforço da ajuda para a RDC
O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras (MSF), lamentou segunda-feira, a "falta de coordenação" na resposta humanitária numa região conturbada e remota do Leste da República Democrática do Congo (RDC) onde, segundo a ONG, mais de 150 mil pessoas deslocadas precisam urgentemente de assistência.
No território de Lubero, ao Norte de Goma, capital da província de Kivu do Norte, mais de 150 mil pessoas, que fugiram dos combates entre o exército congolês e a rebelião M23, vivem em "pobreza total", disse a MSF em comunicado. onde "apela aos actores humanitários para se mobilizarem o mais rápido possível.
Segundo a Efe, a MSF diz ter observado "uma resposta humanitária lenta, marcada pela falta de coordenação, apesar da disponibilidade de financiamento e da presença de muitas organizações em Goma. De acordo com aquela organização, a ajuda ao Kivu do Norte está concentrada na capital da província, Goma, mas "os habitantes e deslocados em áreas remotas" permanecem "abandonados por conta própria e não recebem ajuda", de acordo com Caroline Seguin, coordenadora de operações de emergência da MSF no Kivu do Norte.
Por seu lado, a Cruz Vermelha Internacional (CICV), recorda que os combates na região do Kivu do Norte se aproximam perigosamente das zonas urbanas, tendo já desencadeado a fuga de centenas de milhares de pessoas. Segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), mais de 800 mil pessoas tiveram de fugir das suas casas devido a estes combates, que decorrem desde Março de 2021 e permitiram que o M23 tomasse o controlo de numerosas áreas e locais estratégicos no nordeste da RDC.
Os rebeldes controlam três das quatro estradas que ligam a cidade de Goma ao resto do país e atacaram posições do exército congolês a menos de vinte quilómetros da cidade, uma das mais populosas do Leste do país.
"Esta crise está a caminho de se tornar uma catástrofe humanitária”, disse Anne-Sylvie Linder, chefe da subdelegação do CICV em Goma. Linder advertiu que se os deslocamentos continuarem, irão sobrecarregar a capacidade de resposta do CICV e de outras organizações humanitárias. A organização lembrou que muitas pessoas já tiveram de se deslocar várias vezes devido aos ataques nas zonas onde procuram refúgio, o que complica a prestação de assistência humanitária.
CODECO mata reféns no Nordeste do país
Dezassete pessoas, feitas reféns no dia anterior, no Nordeste da República Democrática do Congo (RDC), foram executadas no domingo pela milícia comunitária CODECO (Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo). No sábado, pelo menos "17 pessoas foram feitas reféns por milicianos da CODECO entre as aldeias de Bambu e Kobu", no território de Djugu, a cerca de 45 quilómetros de Bunia (província de Ituri), declarou ontem à AFP Banguneni Gbalande, chefe da comunidade Akongo-Nyali, onde os factos ocorreram. Essas pessoas estavam em dois veículos viajando de Bunia, a capital da província, para a cidade mineira de Mongbwalu quando a caravana foi emboscada, explicou.
No domingo, esses reféns foram "executados na aldeia de Pechi, reduto da CODECO", disse ele, indicando que havia sido "alertado pelas famílias de algumas vítimas de Mongbwalu". Os "reféns morreram, foram executados por milicianos da CODECO", confirmou à AFP Toko Kagbanese, outro líder tradicional local.
Um morador de Bambu, por seu lado, disse à AFP que a tomada de reféns ocorreu após a morte de três milicianos da CODECO que caíram em numa emboscada feita por uma milícia rival naquela localidade. Uma mulher grávida estava entre os reféns, disse a fonte, que não quis ser identificada por razões de segurança.
Desde o final de 2022, as mortes foram contabilizadas às dezenas quase todas as semanas em Ituri, província rica em ouro. Mais de trinta pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças, foram massacradas em 18 de Março em várias aldeias. Os milicianos da CODECO foram acusados desse assassinato.
A CODECO é uma milícia de vários milhares de homens que afirma proteger a tribo Lendu contra uma tribo rival, os Hema, defendida por outra milícia, o "Zaire". Após uma década de calmaria, o conflito mortal em Ituri entre Hema e Lendu foi retomado no final de 2017, causando a fuga de mais de um milhão e meio de pessoas e a morte de milhares de civis. O conflito anterior entre milícias comunitárias causou milhares de mortes entre 1999 e 2003, até à intervenção de uma força europeia, a Operação Artemis, sob o comando francês.