Festival DocLuanda reconhece trabalho do realizador Óscar Gil

 

Festival DocLuanda reconhece trabalho do realizador Óscar Gil

Francisco Pedro

Jornalista

O cineasta Óscar Gil congratulou-se com a direcção do Festival Internacional de Cinema Documental (DocLuanda), devido à homenagem dedicada à sua carreira realizada, sábado, no auditório Pepetela, em Luanda.

03/04/2023  ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 10H24
Realizador foi homenageado na segunda edição do Festival Internacional de Cinema Documental © Fotografia por: Edições Novembro

A homenagem durou 30 minutos, em que foram exibidos dois vídeos, sendo o primeiro com depoimento do homenageado, e o segundo, um excerto do documentário "Ondjelwa, a festa da chuva”, a mais recente obra cuja ideia original é de Óscar Gil (produtor) e o filho, Gigi Pereira, o realizador.

Uma estatueta em madeira, esculpida em pau preto, foi uma das ofertas do DocLuanda entregue ao realizador homenageado.

Uma peça de artesanato e pequenas considerações quer da organização do DocLuanda, quer do homenageado, preencheram a cerimónia, testemunhada pela directora do Camões, Sónia Fonseca, por familiares de Óscar Gil, colegas da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisuais (APROCIMA), estudantes de cinema e amantes da sétima arte.

Emocionado e visivelmente alegre, Óscar Gil considerou a homenagem extensiva a todos os fazedores das artes com coragem, resiliência e perseverança continuam a lutar, mesmo sem ferramentas, para que "A Cultura Fortalece a Nação, Mais Cultura Mais Angola” não seja um slogan vazio.

Referiu que essas simples homenagens servem para incentivar a continuar a trabalhar no engrandecimento da cultura, pois, na sua óptica a cultura é a identidade de um povo. "Viva Angola em Paz”, salientou, tendo advogado que "mais vale uma simples homenagem em vida do que grandiosos e elaborados elogios fúnebres”.

Jorge António, da organização do DocLuanda, disse que as homenagens vão prosseguir, na próximas edições e visam reconhecer pessoas cujo trabalho não é visível, no caso dos técnicos, a semelhança da primeira edição em que foi homenageado o engenheiro de som, Gita Cerveira, o técnico angolano mais internacional, com inúmeros trabalhos cinematográficos em diversos continentes.

"Este ano, decidimos reconhecer o trabalho do Óscar Gil, são mais de 40 anos dedicados aos audiovisuais, e a nossa filosofia é homenagear as pessoas em vida”, referiu Jorge António, realizador do mítico "Miradouro da Lua”, a primeira co-produção luso-angolana.

Acrescentou que o formato das homenagens não foge ao que aconteceu com Óscar Gil, sem galas e jantares, uma coisa singela. "As homenagens são simples, em que possamos conviver entre amigos, familiares e colegas, embora simples, mas todos os anos será diferente, a depender da figura reconhecida”.

 

Percurso de Óscar Gil

Óscar Gil Amaral Pereira pertence à primeira geração do cinema angolano, tendo partilhado momentos de trabalho com o realizador Ruy Duarte de Carvalho, na série documental "Tempo Mumuíla”. Nasceu na Chibia, em 1953, município da província da Huíla. Afirma-se como realizador, produtor, actor, e ostenta um longo currículo que começou na Televisão Pública de Angola (TPA).

Começou como operador de câmara, uma profissão que o levou a trabalhar na Europa, depois, entrou para o universo da realização e produção audiovisual, algumas vezes tem contracenado com os mais jovens. A lente da câmara de Óscar Gil registou batalhas famosas do período pós-independência de Angola: a célebre batalha de Kifandongo, a norte de Luanda, Cacuaco, em 1975, a detenção em 1978 dos mercenários ao serviço da FNLA e do exército de Mobutu, imagens colhidas logo após o massacre de Cassinga perpetrado pelos soldados sul-africanos, num campo de refugiados nabimianos em 4 de Maio de 1978.

Captou o horror do ataque do exército sul-africano. Em meados dos anos 1980, trabalhou em Portugal, na NBP (Nicolau Breyner Produções), onde aprimorou a sua especialidade com a câmara.

Depois de quase 20 anos na diáspora, decidiu regressar a Angola e dar novamente o seu contributo com a criação da "Óscar Gil Produções”, que fundou em 1999.

Desde então, os projectos de sucesso têm sido inúmeros, com destaque para as novelas "Caminhos Cruzados”, "Vidas a Preto e Branco”, "Encontros e Desencontros”, que marcaram uma etapa da Televisão Pública de Angola (TPA). Hoje é presidente do Conselho Directivo da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisual (APROCIMA). Óscar Gil luta pelo incentivo e a pluralização do cinema e do audiovisual em Angola.

 

"Um incentivo para continuar a trabalhar”

"É com profunda honra e gratidão que participo na segunda edição do DocLuanda, promovido pela produtora Muquixi, na pessoa de Jorge António, e pela Criacom, na pessoa de Henriques Santos, apoiado pelo Centro Cultural Português "Camões” e Academia BAI, iniciativa que louvo e enalteço, pelo contributo à promoção e desenvolvimento da cultura.

De igual modo quero transmitir-vos os meus agradecimentos pela singela homenagem que me prestam, neste evento. É muito gratificante apercebemo-nos que o nosso trabalho é visto e apreciado.

Esta homenagem é um incentivo para continuar a trabalhar, lutar por projectos, juntar a minha voz a todos quantos lutam pelo desenvolvimento da cultura … E se por um acaso o desânimo me quiser vencer, a imagem desta acto será a força para continuar.

Ao falar de cultura e desenvolvimento, remeto-me ao inicio da minha caminhada no mundo dos audiovisuais, há 48 anos, uma fase de profundas transformações política e sociais no nosso país em que eu e outros colegas de profissão percorremos o país registando acontecimentos, como foi o caso da invasão sul africana no sul do de Angola.

Anos depois, munido da experiência adquirida, tive a oportunidade de trabalhar em Portugal com profissionais renomados, como Nicolau Breyner e o grande realizador brasileiro Avancini, entre outros, período que solidificou em mim o gosto pela imagem e pela técnica cinematográfica.

Foi uma época de grande crescimento profissional, sobretudo no domínio do cinema documental e da ficção.

De regresso ao país, munido de um manancial de conhecimentos bastante válido, arrancamos com a produtora Óscar Gil Produções, tendo vindo desde a época 1999/2000 até ao presente, a intervir nas diversas vertentes dos audiovisuais, desde a ficção, ao documentário e à publicidade, recorrendo à técnica e tecnologia actualizada.

 Ao longo do percurso, o reconhecimento pelos trabalhos realizados contou com os prémios de que destaco alguns: Prémio de Carreira FIC, outorgado pelo Ministério da Cultura, Prémio Nacional da Cultura e Artes, pela realização da mini-série "Caminhos Cruzados”, Prémio "África is more”, pela participação no exterior em novelas portuguesas, Prémios da UNAP, vários prémios de publicidade como  Menções Honrosas, fruto da experiência adquirida, da entrega sem restrições e de forma abnegada à profissão.

Os audiovisuais são, portanto, o meu universo, pelo que lamento o estado actual desta forma de arte no nosso país. Reconhecendo as dificuldades económicas que vivemos actualmente julgo que, apesar de tudo, é possível produzir trabalhos de reduzido orçamento, recorrendo a uma linguagem cinematográfica simples e linear.

 Portanto, e tal como temos vindo a sugerir, é necessário que os órgãos de tutela competentes, do Estado, entendam a grande importância do cinema no contexto do desenvolvimento do país e, que em conjunto com os cineastas e organizações interessadas em participar, encontrem as soluções para dar corpo a projectos com viabilidade prévia e criteriosamente avaliada.

Os audiovisuais, em concreto o cinema, desde a ficção ao cinema documental são um veículo muito importante não só de entretenimento, como uma fonte de conhecimento e um meio didáctico para apoiar na mudança de mentalidades e na construção da identidade.

Revermo-nos na tela do cinema, termos a oportunidade de ver as nossas histórias apresentadas no ecrã, as nossas vivências, permite-nos um outro nível de compreensão dos fenómenos que ocorrem à nossa volta e de assimilação da mensagem.

 Por outro lado, o cinema é também uma forma de diplomacia e divulgação do nosso país e das nossas potencialidades desde, obviamente, as culturais, económicas e turísticas.

Para além de tudo que já referi, o cinema transporta-nos para um mundo de magia e fantasia que é necessário à vida de qualquer ser humano possuidor de inteligência, necessita de motivação e incentivo para a construção do seu carácter e da sua imaginação.

Portanto, caríssimos, faz todo o sentido estarmos aqui juntos neste momento, para em conjunto reflectirmos sobre a importância da Sétima Arte, no conjunto das demais formas de arte. Uma vez mais, agradeço à organização do DocLuanda pela homenagem prestada, o que me deixa muito sensibilizado e motivado para continuar a trabalhar e a lutar para que o cinema tenha o seu espaço no contexto das artes angolanas. Deixar aqui agradecimentos a todos que pensam cinema nacional e à minha equipa que me apoia nesta epopeia que é fazer cinema em Angola. Bem hajam. Muito obrigado”.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

• Desejo fazer parte da equipe e actuar na ária de informática. Acredito que poderi executar meus conhecimentos teóricos e práticos e ajudar no crescimento da empresa e do grupo de trabalho.

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