Médicos realizam primeiras cirurgias maxilo-faciais
Pela primeira vez na história da saúde pública em Angola, foram realizadas, ontem, no hospital Josina Machel, as primeiras cirurgias ortognáticas (maxilo-faciais), com o objectivo de corrigir as deformidades faciais de alguns pacientes.
O chefe dos Serviços de Maxilo-Facial do Josina Machel, Agnelo Lucamba, explicou, em entrevista ao Jornal de Angola, que a realização desta cirurgia, de reposicionamento dos ossos da mandíbula e da maxilo, sempre foi necessária porque o posicionamento inadequado prejudicam, não só a aparência do rosto, mas afectam funções vitais como respiração, mastigação e causa apneia de sono.
Agnelo Lucamba disse que as duas primeiras pacientes beneficiadas das cirurgias ortognáticas, têm 15 e 26 anos. "A ideia é corrigirmos algumas deformidades faciais dos pacientes. Uma delas, de 15 anos, por exemplo, nasceu com lábios leporinos e fenda do palato. Esse facto, associado ao mau posicionamento do osso da mandíbula, a levou a ter o rosto torto, como se fosse uma meia lua e a causava grandes problemas no processo de mastigação”, esclareceu.
A outra paciente, prosseguiu, tinha o queixo muito grande e voltado para frente, assim como alguns problemas de mastigação e tinha dificuldades respiratórias. "Como já vinham com certa regularidade ao hospital foram integradas na lista de espera das cirurgias ortognáticas e as fizeram primeira vez ontem, a custo zero”.
O cirurgião disse que por normas são cirurgias demoradas, e, esta primeira, teve a duração de cinco horas e envolveu especialistas dos hospitais Josina Machel, Prenda e Américo Boavida. "A ideia é tornar este processo rotineiro em quase todas as unidades de saúde de nível terciário”.
Por ser a primeira vez que é feita uma cirurgia deste género a nível do sistema de saúde público, referiu, a equipa de médicos maxilo-faciais foi orientada por um especialista de nacionalidade brasileira, que veio à Angola a convite da direcção do hospital Josina Machel.
Um dia depois das cirurgias, contou, as duas pacientes estão a recuperar bem. "No momento não necessitaram de cuidados intensivos e dentro de três dias vão ter alta hospitalar. Porém, vão continuar a ser seguidas em consultas de ambulatório até estarem totalmente curadas”.
Causas genéticas
Em regra, esclareceu o cirurgião, os factores que desencadeiam anomalias do crescimento ósseo na região da mandibula têm causas genéticas, e quando são acentuadas causam a desarmonia na estrutura do maxilar.
"Por ser um problema originado nos ossos, a correcção precisa ir além do tratamento com aparelhos dentários, daí a necessidade das cirúrgicas ortognáticas. Outros pacientes que podem beneficiar das cirurgias são aqueles que nascem com lábios leporinos e fenda do palato”, adiantou.
Para o médico, as pessoas afectadas por este problema, têm dificuldades em fechar bem a boca, apresentam um rosto torto como se fosse meia lua, algumas têm o queixo muito pequeno e mais para dentro ou mais para fora causando-lhe assim, vários problemas de saúde. "As pessoas com essa deformidade sofrem bullying e têm a auto-estima muito baixa. Daí que, a cirurgia, além de ser funcional também devolve a estética do rosto, porque permite que se faça uma reconstituição da face, tornando-a assim normal”.
20 casos por mês
O especialista realçou que as cirurgias ortognáticas são muito caras, custando em média 40 a 50 mil dólares, no exterior do país. Os próprios materiais usados neste processo, acrescentou, são onerosos. "Então, por falta de dinheiro, muitos pacientes acabam por viver assim pelo resto das suas vidas”.
De acordo com Agnelo Lucamba, por mês, o hospital Josina Machel regista, em média, 20 a 25 pacientes com essa deformidade, dentre elas crianças e adultos. "Por ser uma solução definitiva, a cirurgia requer um paneamento prévio e muito cuidadoso por parte dos especialistas. Este é o motivo de nunca terem sido realizadas. Era necessário outros tratamentos, como o uso de um aparelho ortodôntico, para auxiliar no posicionamento estratégico dos dentes”, acentuou.