Brasil destaca importância da cooperação com a China


O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse, ontem, que quer trabalhar com Pequim para "equilibrar a geopolítica mundial" e "ampliar as trocas comerciais", durante um encontro com o Presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Zhao Leji. “Queremos elevar o patamar da parceria estratégica entre os nossos países, ampliar os fluxos de comércio e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial”, afirmou o Chefe de Estado brasileiro, que efectuou uma visita de dois dias à China.

Lula disse que a parceria entre Brasília e Pequim "tem o potencial de consolidar uma nova relação entre os países em desenvolvimento no âmbito global". A reunião ocorreu no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim. Por sua vez, o ministro das Finanças do Brasil, Fernando Haddad, defendeu a adopção de mecanismos cambiais "condizentes" à dimensão do comércio com a China, mas recusou  a polarização entre as moedas chinesa e norte-americana. "Quando abre uma porta, não está a fechar a outra", afirmou Haddad, à margem da visita à China do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. "As transações em dólar vão continuar a acontecer e a maioria das transações vão ser feitas em dólar, mas, em casos específicos, onde os parceiros são muito fortes e tradicionais. Pode pensar em mecanismos muito mais condizentes com essa situação", explicou.

Reconhecendo a "complexidade" do tema, Haddad disse que se "ninguém se debruça sobre o assunto, a rotina faz o seu papel" e lembrou que o Brasil "sempre dialogou com todos os quadrantes do planeta sem privilegiar fortemente ninguém". Os debate sobre a fragmentação do mercado monetário e a diluição do domínio do dólar norte-americano foi renovado pelas sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia. A China reforçou a cooperação com Moscovo, a nível de sistemas de pagamento, promovendo o uso do yuan nas trocas comerciais bilaterais.

A China tem tentado internacionalizar o yuan desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo. Esta questão tornou-se mais urgente à medida que fricções políticas e a prolongada guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington resultaram na imposição de sanções contra várias entidades chinesas. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de nove mil milhões de dólares, em 2004, para 150 mil milhões, em 2022. O Brasil desempenha, em particular, um papel importante na segurança alimentar da China, compondo mais de 20% das importações agrícolas do país asiático.

Fernando Haddad lembrou que a guerra na Ucrânia teve um "impacto muito forte” no sistema financeiro e no sistema internacional de pagamentos, pelo que "reflectir sobre esse tema vem a calhar". O país asiático é a maior potência comercial do planeta e o principal mercado para várias matérias-primas, incluindo petróleo, minério de ferro ou soja, mas grande parte das suas trocas com o resto do mundo continuam a ser feitas em dólares.

O dólar é utilizado em 84,3% das trocas comerciais a nível global, segundo dados recentes divulgados pelo jornal britânico Financial Times. Mas a participação do yuan mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2% para 4,5%, reflectindo o maior uso da moeda chinesa no comércio com a Rússia.

Lula atacou, em Xangai, o domínio do dólar norte-americano como moeda de reserva mundial e apelou para o uso de outras divisas na relação comercial entre Brasil e China.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

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