Será esta quinta-feira, às 18h00, que Suzana Sousa e Odile Burluraux apresentam a exposição “The Power of My Hands”, no salão do segundo andar do Museu de História Natural, em Luanda. A amostra estará patente ao público até ao próximo dia 19 de Maio: como se quisessem se antecipar às festividades pelo dia 25 de Maio, Dia de África, ela reúne artistas africanas, no continente e nas diásporas, com perfis muito diferentes e, sem rodeios, o título da mesma é uma autêntica declaração de princípios.
Mas, falemos sobre o contexto e as circunstâncias em que a exposição "The Power of My Hands” chega a Luanda e, por si só, torna-se uma ocasião ímpar de fruição estética.
Os organizadores o dizem na sua nota de imprensa: tudo começou "no âmbito do Africa 2020 Season”, ocasião em que as duas curadoras de arte fizeram que "16 artistas africanas, explorando temas como o corpo, sexualidade, autorrepresentação, maternidade e crenças e a relação entre o privado e o público, essa exploração, essa que é feita a partir de noções de memória, família, espiritualidade e imaginação”, irrompe pelas salas do Museu de Arte Moderna , em Paris, demonstrando que o trabalho que desenvolvem é pertinente e, portanto, deve ser visto em pé de igualdade com o dos outros discursos estéticos que circulam pelo ecossistema da arte, no mundo.
Mas, o que de diferente, local e oportuno tem esta exposição ao ser mostrada aqui em Luanda? Depois de ter nascido da colaboração de curadores de arte de gerações e geografias múltiplas, mas com olhares e sensibilidades dialogantes e, sobretudo, complementares, no caso a francesa Odile Burluraux e a angolana Suzana Sousa: esta última escolhe colocar o fluxo criativo de várias artistas locais no magma intenso da imaginação continental africana, um gesto que despoleta ressonâncias interpretativas tão interessantes quanto reflexivas.
Ou seja, como podemos ler na nota de imprensa distribuída pelas curadoras de arte: "as artistas apresentadas são de países africanos de língua inglesa e portuguesa, ou da diáspora, nomeadamente, Gabrielle Goliath, Keyezua, Lebohang Kganye, Kapwani Kiwanga, Senzeni Marasela, Wura-Natasha Ogunji, Reinata Sadimba, Lerato Shadi, Ana Silva e Buhlebezwe Siwani. Esta edição conta ainda com a participação de três artistas locais que no seu trabalho reflectem sobre os mesmos temas, nomeadamente Indira Mateta, Pamina Sebastião e Iris B. Chocolate”.
E o que é ainda melhor saber é que "as artistas da exposição "The Power of My Hands” criam obras a partir de elementos inspirados na sua vida quotidiana e familiar, ao mesmo tempo que reivindicam o valor histórico e político do seu trabalho. As identidades culturais e as histórias pessoais dessas mulheres reflectem as suas condições de vida e as suas expectativas. Algumas actividades do universo doméstico, antes associadas ao tédio, ao apagamento, à paciência, têm sido transformadas pela prática artística”.
Pelas razões já evocadas e, também, considerando que a exposição está a ser realizada no Museu de História Natural, em Luanda, um lugar com fortes conotações políticas, sócio-históricas e culturais, já que é um lugar em que esteve um dos primeiros museus coloniais criado na primeira metade do século XX e, portanto, com tudo que isto implica: é evidente que há muito de inovador e disruptivo, desde a démarche na produção da exposição ( como foi financiada) até nas narrativas que propõe.
Porém, isso não é tudo: se, para além do mais, considerarmos a exposição está no mesmo lugar, recordemos, no Museu de História Natural em que, por exemplo, Denise Toussaint e Helena Justino organizaram "Angola 63”, a célebre exposição colectiva de artistas da época, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que "The Power of My Hands” começa a recontar uma nova história do reposicionamento da obra de artistas angolanas no ecossistema de arte à escala tanto local como planetária.
Por estas razões e outras que você, caro leitor, descobrirá quando for visitar a exposição, consideramos que "O Poder das Minhas Mãos” é uma exposição imperdível.