Óscar Gil reabre duas salas de cinema

 

Óscar Gil reabre duas salas de cinema

Francisco Pedro

Jornalista

As duas salas de cinema do shopping Millennium, no Lubango, voltam a exibir filmes em circuito comercial a partir de sexta-feira, com a ficção “Assaltos em Luanda”, do realizador Henrique Narciso “Dito”.

17/04/2023  ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 09H11

As duas salas de cinema do shopping Millennium, no Lubango, voltam a exibir filmes em circuito comercial a partir de sexta-feira, com a ficção “Assaltos em Luanda”, do realizador Henrique Narciso “Dito”.

Encerradas há cerca de dez anos, as salas possuem 100 assentos, e anteriormente eram conhecidas por Cinema "YobaBrothers”, agora passam à designação de Cine-Teatro Óscar Gil.

A reabertura dos cinemas coincidiu com a extensão do festival DocLuanda na cidade do Lubango, aberto quinta-feira e encerrou, ontem, com declamação de poesia, sessões de humor e trova.

O regresso à exibição comercial resulta de uma parceria formalizada, recentemente, entre o Cine-Teatro Óscar Gil, a Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisuais (Aprocima) e a produtora Criações Imediatas.

A intenção vem desde Setembro do ano passado, em que os parceiros pretendiam lançar o projecto "Filmes da Semana”, mas o proprietário das salas sugeriu adiamento para permitir a reabilitação do espaço, treino dos técnicos e manutenção do equipamento.

As sessões, numa primeira fase, vão ser restritas aos finais de semana (sexta, sábado e domingo). A Criações Imediatas, em colaboração com a Aprocima, faz a recolha e selecção dos filmes, enquanto o proprietário das salas se ocupa da exibição.

Cerca de 30 filmes de realizadores nacionais já estão selecionados, segundo o director da Criações Imediatas, Ngouabi Silva. Com essa iniciativa, "as obras nacionais voltarão aos cinemas, proporcionando essa experiência sempre diferenciada aos amantes de cinema da cidade do Lubango”.

Por sua vez, Óscar Gil anseia criar o hábito de as pessoas frequentarem as salas de cinema, "por isso é que nós trouxemos o DocLuanda para o Lubango, será uma constante anualmente”, disse efusivamente satisfeito com o movimento de cinéfilos, que voltam a frequentar as salas construídas numa parceria com o seu irmão empresário, Paulo Amaral.

As salas acolheram pela primeira vez a extensão do Festival Internacional de Cinema Documental, fora de Luanda, um passo que significa, para Óscar Gil, bons motivos para os habitantes do Lubango verem cinema documental, e incentivo para os jovens começarem a produzir documentários contando histórias locais.

 

Aposta em documentários

Além de ter agradecido à direcção do DocLuanda, que se deslocou e acompanhou a mostra no Lubango, Óscar Gil estendeu os agradecimentos aos jovens do Lubango, e prometeu corrigir as falhas que se verificaram no decorrer do festival. "Achamos natural, por que isso é um processo e não é um acto, pelo que prometemos corrigir. Penso que este é o primeiro passo de uma longa caminhada que pretendemos fazer, que é divulgar o cinema nacional”.

Desafiou os jovens com vontade de fazer cinema a apresentar projectos à Aprocima, na Huíla, trabalhar nas ideias e produzir documentários para concorrer na próxima edição do DocLuanda, em 2024.

"Vamos começar a partir de amanhã a pensar em guião, fazer curtas-metragens, é por essa via que nós devemos começar, e não pensarmos em fazer filmes modelo americano que custam milhões, serão mal feitos. Logo, vamos começar a fazer o nosso cinema, neorrealismo, as nossas histórias, os nossos problemas, cada casa ou bairro têm várias histórias. Fazer cinema é contar histórias”.

Além da Óscar Gil Produções, que poderá dar apoio técnico, o realizador de "M’Baku”, apelou aos jovens a fazerem parte da Associação de Cinema e Audiovisual, no sentido de se dinamizar o cinema nacional.

Deu a conhecer que, em Agosto, a Aprocima vai lançar o Festival de Cinema Nacional (FECINA), numa parceria com o Governo Provincial da Huíla, no âmbito das Festas da Nossa Senhora do Monte, um projecto adiado desde Agosto de 2022, por falta de verbas.

"Queremos fazer do Lubango a capital do cinema nacional. Isso é um trabalho de equipa, todos devemos actuar em conjunto e pensarmos fazer cinema. Acredito que vai ser possível termos a indústria que tanto sonhamos e almejamos”

O director do DocLuanda, Jorge António, afirmou estarem lançadas as bases, e esperam que localmente consigam mantar a dinâmica do cinema, "pois seria muito interessante”.

Almeja, também, na próxima edição do DocLuanda, ter em concurso filmes do Lubango, e ter, também, a possibilidade de se criar um prémio para filmes locais, "isso seria muito interessante”.

Ao agradecer, reforçou que os dados estão lançados, e que são os habitantes da Huíla que têm de assegurar a permanência do DocLuanda no Lubango, "nós vamos ajudar em mandar os filmes, e no que for possível,  mas eu espero que o DocLuanda no Lubango seja uma realidade com o apoio do Óscar Gil, do público, da Aprocima, dos cinéfilos e dos que trabalham em audiovisual”.


Histórico da construção das salas "Yoba Brother”

A construção das duas salas de cinema foi ideia de Óscar Gil com todo o apoio do seu irmão Paulo Amaral, um empresário da rede imobiliária, actualmenteapostado em agronegócio, ambos naturais da província da Huíla.

O cineasta, com mais de 40 anos de carreira, e que pertecene à primeira geração do cinema angolano, conta-nos a história dessa aventura artística, industrial e comercial: "Somos naturais da Huíla, eu nasci na Chibia e o meu irmão na Tchicomba. Tive a ideia, massem o meu irmão não teria sido possível concretizar esse projecto.

Tudo começa na altura da construção do centro comercial Millennium, aqui na cidade do Lubango, estavam a vender lojas e nós decidimos comprar um galpão (armazém). A construção das salas é de raiz, foi preciso contratar uma equipa sul-africana que montou tudo, um projecto concebido entre 2005 e 2006.

Naquela altura, a economia do país estava complicada, tivemos de comprar tudo na África do Sul, incluindo azulejos, tapetes, cadeiras, isolamento, lâmpadas, e a equipa de montagem de todo o equipamento foi contratada para vir ao Lubango. Decidimos montar duas salas com projecção de película, o que existia já no Belas Shopping, em Luanda, e pensamos criar algo semelhante aqui na Huíla. Foi assim que nasceram essas duas salas, montadas com o melhor que havia naquela época, por isso, elas estão na mesma categoria de quaisquer outras salas comerciais de shopping quer no país como no exterior, com cadeiras cômodas, climatização, sonorização e telas. Infelizmente doí-nos todo o investimento ‘top de gama’, máquinas novas de projecção de película, modelo italiano, e que até agora nem conseguimos rentabilizar a metade do dinheiro investido. Trouxemos várias vezes equipas de 10 a 12 pessoas da África do Sul, para montar as máquinas. Está aqui enterrado mais de um milhão de dólares, sem exagero.

Depois o cinema de película morre, desaparece, tivemos que fazer adaptação para o vídeo, comprando projectores de vídeo (cinema digital) adaptação para 3 D. Quer em película como em vídeo, comprávamos os filmes em Portugal para estarmos actualizados, acompanhando as estreias da Europa, em que os filmes eram exibidos no Belas Shopping, tínhamos de pagar o transporte das latas (películas) de Luanda até ao Lubango, cerca de 30 a 40 quilos, e tínhamos uma semana para rentabilizar. Era uma dependência em que os outros ditavam as regras do jogo, quantos dias tínhamos de exibir nas nossas salas. 

Quando acabou a película, os filmes digitais vinham em drive (HD), alta qualidade, tínhamos também de pagar em divisas, e acontecia a mesma coisa: uma semana para exibição, davam-nos um código (chave) para aceder os filmes, findo o prazo já não era possível exibir. Nós não temos cultura de cinema, é um outro factor depreciativo à valorização comercial das obras cinematográficas. Vamos poucas vezes às salas de cinema, é preciso que se crie esse hábito novamente as pessoas para irem às salas, para que possamos rentabilizar os filmes”. Tínhamos de pagar em divisas para que tivéssemos os filmes actualizados, até à altura da falta de divisa, causando embaraços em darmos continuidade à exibição de filmes. Com a agravante desvalorização da moeda (kwanza) já não compensava, porque as pessoas aqui no Lubango não têm poder de compra, se cobrarmos o ingresso a mil kwanzas fica difícil para os jovens que gostam de cinema. Tudo isso tem de ser estudado e analisado, podemos ter boa vontade de fazer cinema, para que não surja um outro problema que é a falta de público, há que ter público, senão fica difícil continuar.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

• Desejo fazer parte da equipe e actuar na ária de informática. Acredito que poderi executar meus conhecimentos teóricos e práticos e ajudar no crescimento da empresa e do grupo de trabalho.

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