DocLuanda cria novos públicos e apoia projectos nacionais

 

A cidade do Lubango, capital da província da Huíla, despede-se hoje da segunda edição do Festival Internacional de Cinema Documental (DocLuanda), aberto quinta-feira, em sessão testemunhada pela vice-governadora para a Área Política, Económica e Social, Maria João Chipalavela.

O documentário "Para Além dos Meus Passos”, de Kamy Lara, da primeira edição do DocLuanda, em 2022, é exibido hoje, às 15 horas, seguida da sessão de encerramento, a partir das 18 horas.

Antes, os realizadores, produtores, actores e cinéfilos do Lubango vão participar numa mesa-redonda sobre "Produção de Documentário”, em que são convidados o cineasta e director do DocLuanda, Jorge António, o director provincial da Cultura, Juventude e Desportos da Huíla, Osvaldo Lunda, o realizador e produtor Óscar Gil, o realizador Eurico Pereira, e o coordenador do Núcleo provincial da Huíla, da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisuais (Aprocima), Pedro Ndalila.

Pela primeira vez fora de Luanda, o festival trouxe ao Lubango os filmes "Museu de Manifestações”, vencedora da categoria nacional da segunda edição do DocLuanda, de Irene A’Mosi, e filmes de realizadores estrangeiros e angolanos que concorreram quer na edição passada, como na segunda edição, como "Yoon”, vencedor da categoria internacional da presente edição, de Pedro Figueiredo e Neto e Ricardo Falcão, incluindo os filmes "Labuta”, "Set HaresRunning”, "Nzila Angola”, "Um Sopro do Quintal”, "A Mística dos Tambores” e "Fantasmas do Império”.

Ontem, o DocLuanda no Lubango organizou a primeira mesa-redonda, sob o tema "Cinema em Angola”, com Jorge António, Óscar Gil e Francisco Keth. O encontro permitiu aflorar aos amantes da Sétima Arte residentes no Lubango o papel do DocLuanda fora da capital do país, cujo interesse, segundo o director do festival, visa encontrar parceiros credíveis que permitam organizar as mostras com a mesma qualidade técnica e nível de organização semelhante ao que acontece em Luanda.

O DocLuanda é anual, e decorre no Centro Camões, em Luanda. O festival agrega várias componentes, como exposição fotográfica, venda de livros sobre cinema e DVD de filmes angolanos e estrangeiros e debates, além da exibição dos filmes concorrentes e exibições paralelas (não concorrentes).

A segunda edição teve início a 30 de Março e encerrou dia 6, tendo registado afluência de novos públicos que lotaram as sessões do festival, no auditório Pepetela, e na Academia BAI, que pela primeira vez acolheu o festival.

 

A "Boa Nova”

Uma das novidades da recém-encerrada edição, anunciada no acto de encerramento, em Luanda, em forma de balanço Jorge António deu a conhecer que, à parte do seu concurso anual, o DocLuanda vai fazer durante o ano, uma espécie de concurso em que os proponentes entreguem  os projectos de filmes documentários para obtenção de verbas e apoio técnico.

"Vamos criar uma espécie de fundo de apoio financeiro, mas também acompanhamento técnico ou jurídico, isso quer dizer que se aparecerem projectos que não têm nada e precisam de fazer dossiers, acompanhamentos, entregar em concursos, o DocLuanda pode providenciar pessoas com experiência para o fazer”.

Referiu que projectos com financiamento já assegurado, mas que precisam de mais verbas, o DocLuanda pode encaminhar ou apoiar directamente, financiando os mesmos.

Acrescentou que projectos em fase de rodagem, e que os autores têm os brutos das filmagens, o DocLuanda pode apoiar tecnicamente ou financeiramente para a conclusão dos filmes.

"O DocLuanda pode, também, encaminhar esses projectos para empresas distribuidoras ou para canais de televisão, que podem exibi-los ou adquiri-los, revertendo, sempre, essas verbas para os produtores dos projectos”, prometeu.

A decisão em apoiar projectos é da direcção do DocLuanda, formada por Jorge António,  Sónia Fonseca, directora do Camões, e Henrique Santos, produtor independente da empresa Criacom.

O director do festival considerou positiva a segunda edição por terem conseguido cumprir tudo que estava planeado, "inclusive o que estava prometido desde a primeira edição, que era começar com a extensão do DocLuanda nas outras províncias, e começamos dia 13 com a extensão DocLuanda no Lubango”.


Avaliação da extensão do DocLuanda e perspectivas

A cidade do Lubango acolhe de 13 a 16 deste mês a primeira extensão do DocLuanda, edição 2023, com a parceria e apoios do Cine-Teatro Óscar Gil e da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisuais (Aprocima).

Embora registasse, nesta segunda edição, contingências orçamentais, a organização do festival sente-se satisfeita por expandir e vivenciar a primeira experiência fora da província de Luanda. Desta forma, ouvimos os depoimentos dos integrantes da direcção do festival, nomeadamente Jorge António, Sónia Fonseca e Henrique Santos, um evento que traz, gradualmente, novos públicos e tem criado e ressuscitado a cultura do cinema documental no seio dos profissionais, amadores e público amante do cinema.

Jorge António:Abrimos a extensão Lubango de uma forma auspiciosa, além das exibições tivemos debates sobre cinema em Angola e sobre produção de documentários.Acho que, com a experiência, tivemos nesta primeira extensão do DocLuanda, um momento, realmente, importante enecessária para que festival tenha extensões nas províncias, além de Luanda.

É necessário criar equipas fortes, e que localmente os cineastas e as pessoas que se interessam por cinema se unam em redor deste projecto, não só para ver filmes como  discutir e tentar desenvolver cinema nas províncias, daí a importância dessa iniciativa do DocLuanda/ Lubango. À margem do festival, temos tido encontros com membros do Governo provincial, agentes da cultura e turismo, que nos dizem sobre a necessidade e a falta de eventos culturais na cidade do Lubango.

Tivemos conhecimento de que a província da Huíla tem 9 universidades, achamos necessário que os estudantes tenham acesso a outras propostas cinematográficas, filmes que dificilmente vêm noutras plataformas, por isso, os festivais de cinema servem para isso: congregar todo esse público à volta de um único objectivo, ver filmes e discutir.

No caso do DocLuanda, trata-se de um festival de género, são apenas filmes documentários, as pessoas sabem que são importantes para fixar a história do país, das localidades, a vida das pessoas, etc.Por isso, acho que a primeira extensão do DocLuanda no Lubango está a obter o sucesso que tem que ter. Para o próximo ano, o DocLuanda vai ter uma extensão em Benguela, tudo faremos para que isso aconteça.

Sónia Fonseca:O balanço do DocLuanda no Lubango é extremamente positivo. Conseguimos encontrar condições técnicas e logísticas para trazer o festival, e fazer a projecção dos filmes.O cinema é uma expressão artística que envolve muitos meios, salas, equipamentos e, de facto, Lubango ofereceu-nos essas condições através das salas do Cine-Teatro Óscar Gil.

Levar o DocLuanda para outras paragens sim, é possível, é necessário conhecer as infraestruturas existentes, ter uma equipa que possa dar apoio à toda a dinâmica de organização do festival que será, é claro, sempre uma parte mais pequena daquilo que é o DocLuanda em Luanda. Com o tempo vai ser necessário e penso que é possível organizar e ter sempre muita criatividade para ultrapassar as dificuldades e os obstáculos que podem surgir.

Considero absolutamente essencial levar eventos culturais fora de Luanda, felizmente a capital do país conta com muitos eventos, muitos parceiros culturais, e é importante podermos estar em mais sítios do país para chegarmos a públicos diferentes, estimularmos públicos novos para essa expressão artística que é o cinema.

Portanto, o balanço é extremamente positivo, perspectivas de irmos para outras províncias é sempre desejável, teremos mais 12 meses para avaliarmos as possibilidades, os meios, e apelamos a todos os parceiros interessados em colaborar com o DocLuanda, sobretudo os que vivem forade Luanda, que entrem em contacto através do website "www.docluanda.com”, quem sabe podemos criar uma rede mais alargada de pessoas que possam contribuir para dar mais consistência a este projecto.

Henrique Santos: O primeiro propósito de expandir o DocLuanda para as províncias tem a ver com a disseminação, ou divulgação do cinema em todo o país, particularmente o documentário tendo em conta que temos uma variedade de assuntos, hábitos, costumes e tradições, contos, histórias, nos diversos campos que devem ser contados. Através do cinema dá-se a oportunidade de os jovens pensar, criar, começarem a escrever ou recorrer do que já foi escrito pelos mais velhos, e passarem para a película (filme). Isto é um dos grandes propósitos do DocLuanda.

Sabemos que há uma grande necessidade a nível do conhecimento, ensino, das boas práticas e técnicas em termos de produção cinematográfica, esta é uma das formas de começar a estimular os jovens ávidos em trabalhar em cinema ou fazer carreira.

Por outro lado, isso também faz com que os diversos parques que estão paralisados, ou degradados a nível de nacional, começam a ser revitalizados, por que a nossa história, o cinema, particularmente o documentário, mesmo que não seja o documentário, passem a estimular a juventude, embora muitos dizem ser mais fácil fazer ficção, ou mais interessante, não!

O documentário tem um interesse muito particular, o documentário trata de factos reais, de histórias e vivências do nosso povo, de cada região em reencontrar-se, depois projectar-se, por isso, será um orgulho as pessoas estarem a ver, vivenciar algo que tem a ver com elas, com a sua própria cultura.

Aqui no Lubango houve, particularmente, uma coincidentemente da imagem do DocLuanda, edição 2023, ser o rosto de uma jovem mumuíla, simultaneamente é o mesmo cartaz para a extensão do DocLuanda no Lubango. Com isso, as pessoas ligam-se. É óbvio que sabemos que há maior dificuldade na própria disseminação, ou na própria vontade das pessoas aparecerem. Eu tive a particularidade, sexta-feira, de comunicar algumas pessoas (convidar), e sinto que há essa vontade, esse querer e necessidade de aprenderem e verem coisas novas.

Acredito que a disseminação pelas províncias vai ser uma mais valia, em todos os sentidos, até no aspecto técnico, as pessoas verem novos equipamentos apresentados pela Óscar Gil Produções, que criou a exposição com máquinas de projecção de película. Torna-se interessante as pessoas verem esse equipamento porque ninguém entra numa sala de projecção, com excepção do técnico que se encarrega pela projecção do filme. Por isso, estando expostos esses equipamentos as pessoas viajam um pouco no tempo, conhecendo como são feitas as projecções: "afinal é assim que se projectam os filmes?!”

Hoje em dia,  já não se usa a película, os custos de produção são elevados, mas as pessoas poderão ter contacto em termos técnicos, falarem com os realizadores, com os produtores, conversar, trocar experiências, perguntarem como é que se faz, porque que se faz, tudo isso. Eu, que venho dar um acompanhamento e suporto técnico, também, conversar com as pessoas daqui, com os técnicos, jovens que desejam aprender, passar-lhes algum brio, responsabilidade no sentido de como devem cuidar das coisas, como devem tratar o som, os equipamentos, terem a responsabilidade de estar no local, na sala de projecção sem abandoná-la  antes de sessão terminar  para controlar se a projecção está a correr bem, por que tudo isso conta, não apenas vir apresentar filmes, existem inúmeros aspectos que temos que devemos salvaguardar para que as pessoas saiam satisfeitas  e digam: sim,  realmente valeu a pena, quero mais, venham mais, tragam mais, tudo isto é um conjunto de energias positivas que se passam à sociedade e que é desta forma que se faz crescer e, principalmente, cria-se o hábito das pessoas virem ao às salas de cinema, por que é algo que nós não temos.

Embora exista salas em que se projectacinema comercial sentimos, também, muito pouca afluência às salas, a não ser quando se trata de filmes de Hollywood, de resto, há muito pouca afluência. Espaços como esse Cine-Teatro Óscar Gil, eu acredito que, estando a funcionar regularmente, será muito mais acessível para a maioria da população. É isso que se pretende estimular a nível da sociedade angolana para melhor conhecimento da nossa história, melhor hábito de aprendizado cultural, por que cinema é também uma escola.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

• Desejo fazer parte da equipe e actuar na ária de informática. Acredito que poderi executar meus conhecimentos teóricos e práticos e ajudar no crescimento da empresa e do grupo de trabalho.

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