Luandeses rendem homenagem ao compositor Carlos Lamartine
O lançamento do disco teve uma sessão de venda e assinatura de autógrafos e foi sucedida de um almoço de confraternização e que culminou com a realização de um espectáculo de aproximadamente duas horas denominado "Show Lamartine 80 anos”.
O músico disse que o disco prima por fazer uma abordagem que reflicta os princípios da solidariedade, estima a valorização dos cidadãos, numa interacção entre gerações. As canções, disse, procuram sempre alertar e ajudar a construir uma nova mentalidade entre os angolanos.
Carlos Lamartine realçou que o disco traz temas de carácter patriótico, assumindo-se como um compositor que procura transmitir mensagens de cariz nacionalista, humanista com sentimentos positivos. O disco comporta apenas um tema antigo, o "Casweya”, que lhe foi introduzido novos elementos acústicos. Os nove temas do " Gerações Primeira”, ressaltou, é um pouco o reflexo dos seus 80 anos, divididos entre a sua trajetória de vida num país que ainda pertencia a província ultramarina portuguesa até aos dias de hoje. "O disco é uma recordação das minhas vivências com implementação de um conjunto de valores, símbolos, grupos que estão bastante presentes nos temas. O disco tem manifestações antigas e elementos introduzidos pela nova geração.
O autor do disco compacto "Angola Ano 1” lançado dois meses antes da proclamação da independência, disse que o disco complementa-se com um conjunto de palavras interpretadas em kimbundo, umbundo, kikongo, como forma de facilitar a comunicação com o público.
Para o presidente da comissão directiva da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC-SA), Zeca Moreno, a chegada do disco de Carlos Lamartine ao mercado deve ser consumida por todas as gerações. Segundo o também músico, o disco é um produto musical com qualidade e transmite um legado de mais de seis décadas de carreira artística.
De acordo com Zeca Moreno o disco deve ser de carácter obrigatório para os angolanos e não só, pela riqueza dos conteúdos e transportar vários elementos da cultura nacional. "Os jovens precisam beber de fontes originais. Por isso aconselho as pessoas a explorarem o disco”.
O anfitrião teve a honra de receber a benção e uma oração proferida pelo arcebispo de Luanda, Dom Filomeno Vieira Dias. De seguida a administradora distrital do Rangel, Nádia Neto fez algumas considerações e reconhecimento sobre a trajectória do homenageado.
Como convidados, Lulas da Paixão e Mago de Sousa, todos acompanhados pela Banda Maravilha, fizeram parte da festa ao interpretarem alguns sucessos. A actividade cultural e artística contou, igualmente, com a exibição dos grupos tradicionais Semba Muxima, do Ballet Nzinga Mbandi e o grupo carnavalesco União União Recreativo Kilamba, que apresentaram as músicas e danças folclóricas africanas. A banda Maravilha abriu o espectáculo ao interpretar os temas de seu repertório "É zungueira” e "Meu Amor da Rua 11”. De seguida, o músico Carlos Lamartine subiu ao palco para interpretar os temas Manguxi, da autoria do falecido presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Cantou e dançou o tema "Monangambe” do também falecido Tonito. Cantou igualmente "Homenagem ao Vate Costa” o seu falecido irmão, a canção "Kalunga” dos Ngola Ritmo, o "Kisweya” canção de sua autoria com mais de cinco décadas de existência.
Prémio Nacional de Cultura e Arte, edição de 2017, na categoria de música, o músico fez uma verdadeira viagem ao passado. Durante o espectáculo, recordou os maiores sucessos e juntamente com os convidados a fazerem uma festa típica dos angolanos. A tradicional farra de quintal. Durante o espectáculo foram promovidos outros estilos como bolero e kilapanga.
Carlos Lamartine, por fazer parte dos grandes artífices da música nacional, tendo as suas composições e interpretações assentes não apenas na canção popular urbana e abordarem o género satírico e revolucionário, como a trova e o folclore, enriquecendo e valorizando o universo contemporâneo da música angolana, espera-se de hoje um espectáculo como resultado de mais de seis décadas dedicadas à música.
O cantor, que estreou-se, a 29 do mês passado, no mundo literário ao publicar no Pátio da Liga Africana, o livro "Ser Poeta em Harmonias e Silêncios”, dia em que completou 80 anos, voltou a comercializar o mesmo livro, e um outro de poesia, "Alma de Babel”, edição independente.
Carlos Lamartine, 80 anos, é licenciado em Pedagogia e especializado em História. É um profundo conhecedor das origens da música popular angolana e um dos principais protagonistas. José Carlos Lamartine Salvador dos Santos Costa nasceu em 1943 numa casa de pau-a-pique por debaixo de uma grande árvore, num musseque na cidade de Benguela. Juntamente com parentes e amigos da sua geração e das gerações que o seguiram, "Man Lamas” marcou a história da música angolana.
Em 1953, o pai foi transferido para Luanda e levou o Carlos e duas irmãs com ele, num barco que tinha o nome de "Colonial”, que mais tarde ficou eternizado numa música do conjunto N’gola Ritmos. Em Luanda, foram viver para o chamado Bairro Indígena, um bairro novo destinado para os trabalhadores e funcionários negros de baixo rendimento social e que foram despejados do centro habitacional da capital. As condições de vida eram modestas, mas vindo da pacata cidade distrital de Benguela, o músico ficou impressionado com a dimensão e grandeza de Luanda.
Após a mudança para o Bairro do Marçal, o Carlos Lamartine, como era muito estimado e querido, fundou, com outros jovens do bairro, o seu primeiro grupo musical, a turma "Os Kissweyas”. Logo após a Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974, o Carlos Lamartine, integrado nas fileiras dos militantes do MPLA, tornou-se no mais popular músico, tendo sido co-autor do Hino Nacional de Angola "Angola Avante”.
Participou como regente do Hino Nacional, no acto da proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975. Em 1987, deixa as tarefas no partido e passa aos quadros da Secretaria de Estado da Cultura. Em 1995, foi nomeado Director Nacional de Acção Cultural, tendo em 2007 sido colocado no Brasil com funções de Adido Cultural na Embaixada da República de Angola. Esteve, entretanto, em Portugal no ano 1996 para fazer o lançamento do primeiro CD.