"Temo que estas mortes tenham sido normalizadas”, alertou o director-geral da OIM, António Vitorino, acrescentando que, atrasos e lacunas nas buscas e resgates liderados pelos estados estão a custar vidas humanas.
Mais de 20.000 pessoas já morreram na rota do Mediterrâneo Central desde 2014, acrescentou.
Itália decreta estado de emergência
Os ministros italianos declararam estado de emergência por seis meses em resposta a um aumento no número de migrantes que cruzam o Mediterrâneo vindos do Norte da África.
A decisão de libertar € 5 milhões (£ 4,4 milhões) em fundos e coincide com a chegada de 3.000 migrantes em três dias. Vários barcos desembarcaram na ilha italiana de Lampedusa e a guarda costeira resgatou cerca de 2.000 pessoas desde sexta-feira.
A ONU registou o maior número de mortes de migrantes desde 2017.
O órgão de migração disse que 441 mortes foram registadas no Mediterrâneo Central nos primeiros três meses de 2023, alertando que atrasos nos resgates liderados pelo Estado resultaram em pelo menos 127 pessoas mortas, enquanto num outro incidente mortal houve uma completa falta de resposta.
No naufrágio mais recente, pelo menos 10 pessoas da África subsaariana morreram afogadas na costa da Tunísia, segundo a guarda nacional. Outras dezenas foram resgatadas após o acidente na terça-feira na cidade portuária de Sfax.
A Tunísia se tornou o maior ponto de partida para barcos de migrantes nos últimos meses e outras quatro mortes foram anunciadas no fim de semana ao largo de Sfax, a cerca de 185 quilometros de Lampedusa.
A Tunísia está a passar por uma crise financeira e o aumento acentuado nas travessias marítimas ocorreram depois que o Presidente Kais Saied acusou os migrantes oriundos dos países da África a Sul do Sahara de causar uma onda de crimes, gerando acusações da ONU e discurso de ódio.
As chegadas de migrantes à Itália aumentaram acentuadamente em comparação com o mesmo período do ano passado, apesar dos esforços do Governo e da coligação de direita da Itália para reprimir a migração irregular. Um barco de pesca que transportava 700 migrantes resgatados deveria chegar ao porto da Sicília na tarde de ontem.
O ministro do Mar e Protecção Civil, Nello Musumeci, falou de um aumento de 300% nos fluxos de migrantes e disse que era uma "emergência absoluta” que colocava em risco a infraestrutura do país.
"Estamos a falar de um fenómeno nunca visto no passado. As ilhas sozinhas não conseguem fazer face a este estado de emergência”, disse.
O estado de emergência não resolverá o problema, frisou o ministro. Exigiu uma intervenção responsável da União Europeia.
Além do financiamento extra, não está claro como a medida italiana lidará com o aumento do número de imigrantes no Mediterrâneo, mas os relatórios dizem que as autoridades poderão acelerar os procedimentos de recepção e repatriação daqueles que não têm permissão para permanecer na Itália.
A guarda costeira italiana escoltou dois barcos no mar Jónico, na costa da Sicília.
Acredita-se que um dos barcos com 400 pessoas partiu de Tobruk, na Líbia, e a guarda costeira disse que as difíceis condições do mar estão a afectar o resgate.
O barco foi localizado pela última vez por uma linha directa não oficial para migrantes chamada "Alarm Phone” no Mar Jônico, a Leste da Sicília, na terça-feira.
"As pessoas a bordo relataram várias emergências médicas, inundação e não restava combustível”, disse a linha directa, descrevendo a situação como dramática.
Um outro barco, também escoltado pela guarda costeira, transportava cerca de 800 pessoas. Não está claro de onde o barco partiu e a guarda costeira italiana disse que estava superlotado.
Um alarme urgente foi levantado pela primeira vez com as autoridades da Itália, Grécia e Malta no domingo, quando o barco foi encontrado à deriva em águas maltesas, disse o Alarm Phone.
A organização não governamental alemã Sea-Watch International disse que dois navios mercantes perto do barco receberam ordens de não ajudar nos esforços de resgate de Malta enquanto o barco estava em águas maltesas. Em vez disso, um dos navios foi autorizado a fornecer combustível e água.
As Forças Armadas de Malta disseram ao The Malta Independent que "nenhum resgate foi solicitado pelas pessoas a bordo”.