“Peça do Mês” destaca simbolismo dos Axiluanda na preservação da cultura
Os Axiluanda, representados por uma boneca, foi a temática escolhida como objecto do projecto cultural “Peça do Mês” do Museu Nacional de Antropologia, em Luanda.
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No contexto histórico, a boneca, de acordo com o texto de apoio, é um objecto que está a representar os nativos da Ilha de Luanda. Sendo a capital do país, Luanda é uma cidade onde convergem muitas culturas, tanto endógena como exógena.
Os Axiluanda destacam-se, não só por serem nativos, mas por ainda conservarem alguns traços folclóricos que os distinguem, como: a prática da pesca artesanal, os pratos típicos tradicionais, sobretudo a sua vestimenta masculina e feminina.
Porém, sobre a vestimenta da mulher, de modo geral, segundo o texto de apoio, pode-se observar dois tipos: o europeu e para os mais conservadores, sobretudo as idosas, o tradicional estabelece uma diferença de expressão sociológica e cultural.
Entretanto, a mesma indica que o fenómeno de aculturação do vestuário não as atingiu. Outrossim, o traje tradicional na sua forma mais antiga consta de vários panos, o kimono e o lenço para a cabeça. Essas peças acompanhadas de acessórios como: brincos, anéis e pulseiras, preferencialmente de ouro que contribuem ou tornam a mulher muxiluanda bela e de regalo para os olhos dos observadores.
Nos panos, elas têm preferência pelos riscados entrecruzados ou axadrezados que designam por maculusso (cruzes) e também como diferentes estampas.
Quem se deslocar ao museu e ter contacto com a peça, a par da roupa interior, poderá constatar que a boneca usa três panos. O primeiro, partindo de dentro para fora, chamado de mulele ya jipanda, que é preso com um acessório com o nome de phonda ya mbunda, feito com uma tira de tecido que desce até ao artelho, sobreposto uma dobra em forma de sobressaia.
O segundo plano, do mesmo tamanho, passa por baixo das axilas e é preso sobre o peito ou lançado sobre o ombro esquerdo e também desce até ao artelho como o primeiro.
O terceiro pano é muito importante. É o pano da cabeça, colocado directo ou por cima do lenço e caído até a cinta. As pontas superiores podem ser dispostas de várias formas. Podem ser puxadas para frente, por cima dos ombros ou variar com uma ponta para atrás e outra para frente.
Para os usuários, este último pano é imprescindível para as pessoas que se prezem. Portanto, a boneca ora exposta, pertence ao subgrupo muxiluanda do grupo Ambundu e foi uma oferta ao museu da pesquisadora dos trajes típicos de Angola, Ana de Sousa.
O projecto
A "Peça do Mês” é um projecto expositivo regular, que consiste na exposição mensal de uma peça isolada, numa "vitrina especial”, do Museu Nacional de Antropologia, em Luanda.
O projecto visa, entre outros objectivos, apresentar temáticas e tipologias de objectos com elevado valor etnográfico, histórico e científico, permitir a rotatividade das colecções do Museu de Antropologia, divulgar e valorizar as suas colecções, através da "Peça do Mês”, e contribuir para o conhecimento da cultura de Angola.
O objectivo do projecto é levar o público a visitar o Museu Nacional de Antropologia, contribuir e aumentar o nível cultural da população, bem como as estatísticas da instituição, tendo como público alvo crianças, jovens e estrangeiros.
No total, são 12 peças, uma por cada mês, cuja acção inclui o tratamento e manutenção do acervo seleccionado, pesquisa e redacção de textos sobre a peça, aquisição de fotografias e de expositores e a produção gráfica de postais. O Museu Nacional de Antropologia é um estabelecimento público que visa assegurar, entre outras atribuições, a divulgação do acervo cultural sob a sua guarda para fins educativos.
O Museu Nacional de Antropologia localiza-se no bairro dos Coqueiros, na cidade de Luanda. Fundado em Novembro de 1976, foi a primeira instituição museológica criada após a independência de Angola, ocorrida um ano antes. Esta instituição de carácter científico, cultural e educativo está vocacionada para a recolha, investigação, conservação, valorização e divulgação do património cultural angolano.
O Museu Nacional de Antropologia é composto por 14 salas distribuídas por dois andares que abrigam peças tradicionais, designadamente utensílios agrícolas, de caça e pesca, fundição de ferro, instrumentos musicais, jóias, peças de pano feitas de casca de árvore e fotografias dos povos khoisan. Além do seu núcleo permanente, o Museu recebe também diversas exposições temporárias.