Brasília aposta numa maior cooperação com Pequim








Brasília aposta numa maior cooperação com Pequim

A visita do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, à China, depois de ter sido adiada, que começa hoje, 11, tem uma agenda ambiciosa que prevê a celebração de muitos acordos e uma grande delegação brasileira formada por cerca de 300 membros.

Nos encontros, Lula vai tratar de temas económicos e diplomáticos, expondo a intenção do país sul-americano de retomar uma cooperação mais ampla com países em desenvolvimento e expandir influência do Brasil no mundo, após o mandato do ex-Presidente Jair Bolsonaro que foi marcado pelo grande isolamento internacional.

Existe a projecção por parte de diplomatas brasileiros de que serão assinados cerca de 20 acordos de cooperação entre Brasil e China em diferentes áreas, com destaque para a ciência e tecnologia, economia, comércio exterior, cultura, indústria, defesa e educação. Segundo declarações do secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Eduardo Paes Saboia, cerca de dez dias antes da viagem de Lula da Silva à China, estão a ser negociados muitos acordos bilaterais, 20 já foram confirmados, "mas esse número pode aumentar.”

Um dos acordos da área económica que gera expectativa diz respeito à activação de um fundo de financiamento chinês de 20 mil milhões de dólares para investimentos em projectos no Brasil. O país sul-americano também espera firmar parceira para desenvolver a sexta geração de satélite sino-brasileiro e, por iniciativa do Governo Lula da Silva, há a indicação de que pode acontecer uma declaração conjunta com a China sobre clima e até mesmo criação de um fundo de financiamento binacional para combater as mudanças climáticas.

A previsão é que Brasil e da China também discutirem temas de governança global, assuntos de interesse dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e a proposta brasileira sobre a criação de um grupo de países não envolvidos na guerra provocada pela invasão russa à Ucrânia para negociar a paz naquela região.

Xi Jinping acabou de retornar de uma visita de Estado a Moscovo, onde se reuniu com o Presidente russo, Vladimir Putin, e apresentou as propostas chinesas, facto que aumenta a certeza de que a guerra no leste da Europa será um tema sensível e importante no encontro do líder chinês com o líder brasileiro.

Na visita, Lula da Silva deve participar de um grande evento de negócios que vai reunir pelo menos 240 empresários brasileiros, com forte presença de pessoas ligadas ao agronegócio que acompanham a comitiva governamental na viagem, além de empresários e representantes do Governo chinês. A China é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro e no ano passado absorveu 31,9% das vendas do sector ao exterior, segundo dados do Ministério da Agricultura do país sul-americano. Cerca de 40 políticos, entre ministros do Governo brasileiro e parlamentares convidados devem participar das agendas na visita de Lula da Silva ao país asiático.

O programa oficial anunciado pelo Governo brasileiro também prevê uma visita a Xangai, capital económica da China, onde a ex-Vice-Presidente Dilma Rousseff, que governou o Brasil de 2011 a 2016, vai  assumir a gestão do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos BRICS. Ao final da viagem, Lula da Silva vai ter, em apenas três meses de mandato, tido reuniões com os mais importantes parceiros comerciais do Brasil. Em Janeiro, o governante foi à Argentina, em Fevereiro esteve nos Estados Unidos, segundo maior parceiro do Brasil e que fica atrás apenas da China nas trocas comerciais, numa viagem que também contou com um encontrou dele com o Presidente norte-americano, Joe Biden.

A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil e uma das principais origens de investimentos em território brasileiro. Em 2022, a corrente de comércio entre os dois países atingiu recorde de 150,5 mil milhões de dólares.

 

Visitas às zonas inundadas

No domingo, o Presidente brasileiro sobrevoou 53 dos 64 municípios declarados em situação de emergência devido às inundações no Maranhão (nordeste), um dos mais pobres do país. Com uma delegação ministerial, Lula viajou para a região mais afetada e visitou um abrigo para vítimas no município de Bacabal, onde recordou que, quando tinha 19 anos, passou várias noites nestes campos devido à inundação da sua casa em São Paulo. "Vivi em bairros onde a água subia até um metro e meio e se acordava com baratas, ratos e sanguessugas. É por isso que sei o que esta cidade passa.

E não há tempo para tirar os móveis, as coisas”, disse Lula aos jornalistas, segundo refere a Lusa.

A visita à região ocorreu dois dias antes de embarcar na sua visita oficial à China e aos Emirados Árabes Unidos. "Vou estar sete ou oito dias fora do Brasil e não poderia viajar para outro país sem visitar os estados brasileiros que estão com problemas devido às inundações, e Maranhão é o estado que se encontra na situação mais difícil neste momento”, disse Lula. Na véspera dos seus primeiros 100 dias do seu terceiro mandato, que assumiu a 01 de Janeiro, Lula apelou à "união” de governadores, autarcas, políticos e sociedade para avançar com as suas soluções de habitação popular e evitar mais desastres causados pelas chuvas.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

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