Mais de 20 quadros de pintura do artista plástico Álvaro Macieira dão vida à sua mais recente exposição individual, intitulada “Plasticidade Contemporânea”.
Das obras expostas destacam-se "O profundo Silêncio da Saudade”, "Angola Kutumina”, "Remember, Um Bom Dia para Lembrar”, "Angola Dia Alegre de Cacimbo”, "Alvorada”, "Angola Inspiração”, "Angola, beleza da Mulher do Campo”, "Manhã Quente”, "Angola, Memórias para Lembrar”, "Uma Ave no amato”, "Kuzola, Amor” , "Muxima, Coração”, "Flor de Deserto”, "Máscara Rosa com flores”, " Máscara preta”, " Máscara Rosa com Brincos” , "Máscara Azul”, "Máscara Laranja com Tranças” e " Máscara Laranja com uma Flor”.
Em declaraçõesà imprensa, na cerimónia de inauguração, Álvaro Macieira explicou que das obras expostas, 12 são desenhos e as restantes são telas pintadas em acrílico sobre tela. O artista referiu que as obras expostas serão substituídas em quatro semanas, dando lugar a novas peças de arte.
"Recebi a proposta de substituir os quadros num intervalo de um mês, porém, não consigo trazer obras muito grandes porque não se pode transportar obras de quatro metros em função do espaço, mas farei a mudança, um quadro em cada mês”, frisou.
O artista explicou que todas as peças de arte expostas são especiais, mas a intitulada "O Profundo Silêncio da Saudade” destaca-se, porque foi feita no período de confinamento por conta da pandemia da Covid-19. "Mesmo estando num tempo de silêncio, as pessoa tiveram que se reinventar para sobreviverem”.
Álvaro Macieira explicou que as outras obras foram pintadas num ambiente normal, sem restrições, tendo sublinhado que não faz distinção de nenhuma obra. "Gosto do que faço e o faço com muito amor”, declarou.
O pintor referiu que a exposição representa o amadurecimento da sua caminhada como artista, razão pela qual partilha a maior fonte da sua inspiração, que é a arte africana.
Álvaro Macieira reforçou que o som do batuque e de outros instrumentos tocados em cerimónias tradicionais o fez viajar para o interior do país, para conhecer melhor a realidade angolana.
"Não preciso recorrer a uma máscara para me inspirar, porque está dentro de mim, aquela musicalidade de ouvir está em mim, e isso saí espontaneamente para a tela, de modo que não tenha entraves”, disse.
Como gostaria que o dia tivesse 48 horas, o artista afirmou que, se tivesse todo esse tempo, aproveitaria para pintar e fazer mais quadros que exprimissem variadas temáticas.
Ao fazer as obras, confessou, a inspiração surge na imensidão das planícies, ao conhecer as florestas, percebeu que é ecologicamente correcto o contacto com a flora.
"Hoje aconteceu um reencontro nesta exposição para aglutinar as pessoas que entendem sobre a matéria e querem partilhar com outras, esse é o sentido da arte”, disse o artista.
Na cerimónia de abertura da exposição, Maria Lopes, de nacionalidade mexicana, disse que foi maravilhoso visitar o trabalho do artista angolano, tendo revelado que sempre teve curiosidade sobre as artes plásticas. "Desde que comecei a seguir as obras do Álvaro Macieira consegui aprender mais sobre Angola, e me conectar com as histórias do país”.
Maria Lopes reforçou que por intermédio dos quadros descobriu muitas coisas que fazem referência à cultura ancestral, indicando como exemplo a máscara Tchokwe e de alguns elementos simbólicos.
"Cada quadro exposto tem uma cor que os caracteriza”, disse, reforçando que todas as obras são muito expressivas.
Para o arquitecto Ali Correia, Álvaro Macieira é um artista por excelência, tendo referido que foi gratificante testemunhar o seu trabalho. "É sempre bom ter o contacto com obras de artistas de referência, faremos votos que o período de exposição seja longo para todos apreciarem”.
Uma das obras que mais me chamou atenção, afirmou, foi "Angola, beleza da mulher no campo”, que retrata a beleza da mulher no campo e a mãe angolana.
O antigo jornalista, escritor e consultor Álvaro Macieira é um dos mais bem cotados e valorizados artistas plásticos de Angola.
Após uma longa e brilhante carreira no Jornalismo, sempre ligado às artes e à cultura, o protagonista revelou a sua faceta nas artes plásticas em 1998. Com 40 anos, as telas em branco começaram a ser preenchidas com o seu inegável talento, que surpreendeu os coleccionadores de arte e inspirou os mais jovens.
Em 2000, o artista recebeu o prémio Ensa Arte, que o fez sair do anonimato enquanto artista. Dois anos depois conquistou o primeiro prémio no maior galardão das artes plásticas, produzido pela ENSA em 2002, e recebeu o galardão de "Melhor Pintor do Ano” pela revista Tropical e pela Televisão Pública de Angola (TPA).
As obras pictóricas do artista foram exibidas em várias capitais do mundo, com destaque para Washington, Paris, Moscovo, Berlim, Hanôver e Abuja.
Ao longo das duas últimas décadas expôs 40 trabalhos individuais e participou em mais de cinquenta exposições colectivas.
Com o artista plástico alemão Horst Pope e o angolano Augusto Ferreira, Álvaro Macieira fundou, em 2004, o grupo Conexão Cultural. Em oito anos de intercâmbio e diálogo artístico, na Alemanha e em Luanda, com o artista alemão fez várias exposições e pinturas e 108 obras de pequenas e grandes dimensões.
O atelier do artista, localizado na Urbanização Nova Vida, tem sido visitado frequentemente por alguns amantes das artes, com destaque para os embaixadores dos Estados Unidos e da França, a arquitecta da FAO Aida Luberto, o embaixador angolano acreditado na Santa Sé e outras individualidades.
Nascido em Sanza Pombo, na província do Uíge, Álvaro Macieira é filho de pai português e de mãe angolana. A caminho dos 65 anos, o artista sonha em realizar uma exposição em Portugal, em homenagem ao angolano Víctor Sá Machado, que já o entrevistou muitas vezes, e o recebeu pela última vez em 1996, na Calouste Gulbenkia, em Lisboa.
Álvaro Macieira é jornalista, escritor, artista plástico e consultor cultural.
Foi Editor de Cultura na Angop, colaborou na Rádio Nacional de Angola, Televisão Pública de Angola (TPA) e Tribuna Cultural da BBC - Londres, em Língua Portuguesa.
É membro da União dos Escritores Angolanos (UEA) e da União Nacional dos Artistas Plásticos. Publicou os livros "Castro Soromenho: Cinco Depoimentos”, "Cantos de Amor” e "Séculos de Amor”.