Grupos angolanos Pitabel e Kalunga impressionaram os moçambicanos

Os espectáculos dramáticos “A Fronteira do Asfalto” e “Rei Sem Coroa”, das companhias Pitabel e Kalunga Teatro, respectivamente, tiveram nota positiva, no último fim-de-semana, na 19ª edição do Festival Internacional de Teatro de Inverno (FITI), que reuniu participantes da África do Sul, Portugal, Cabo Verde e Brasil.

De acordo com o balanço apresentado pela organização, a exibição dos grupos angolanos agigantou e agitou a cidade de Maputo, capital de Moçambique, devido à qualidade apresentada pelos actores, na valorização e promoção do festival, que decorreu de 27 de Maio a 4 deste mês, em Maputo.

Os professores sul -africanos, que participaram em algumas oficinas de teatro, inseridas no programa do festival, foram unânimes em reconhecer que os grupos angolanos apresentaram técnicas de contextualização, actuação, dicção dos textos, figurino, iluminação e sonoplastia ao nível dos grandes espectáculos e companhias internacionais.

O presidente da Associação Cultural Girassol de Moçambique e organizador do FITI, Joaquim Matavel, espera ansiosamente poder retribuir ao mesmo nível, quando participarem, também, este ano, na 8ª edição do Circuito Internacional de Teatro (CIT), que vai decorrer de 30 de Julho a 10 de Setembro, no Elinga Teatro, em Luanda.

Segundo o encenador do grupo Kalunga Teatro, Víctor Suama, a crítica constatou que os espectáculos dos grupos angolanos foram de "muito boa qualidade” e que "estão ao nível do que de melhor se faz noutras realidades internacionais”. Para os moçambicanos, disse, os espectáculos "foram verdadeiras aulas práticas, que precisam ser encenadas em outros festivais internacionais”.

O grupo Kalunga Teatro propôs o monólogo "O Rei Sem Coroa”, interpretado, no sábado, no espaço Casa Velha, pelo actor José Pires Gonçalves "Diafragma”. O drama retratou a história de um anjo em estado depressivo, por não ter conseguido concretizar os projectos e alcançar determinadas metas.

Devido aos fracassos constantes, o anjo, revoltado, projectou a última investida, a destruição da humanidade, como forma de vingança e egocentrismo. O enredo recriou acontecimentos sobrenaturais cada vez mais presentes nas sociedades modernas, visto que o mundo tende a ser consumido por forças ocultas.

O encenador explicou que o aprofundamento e a troca de experiências, no domínio das artes, no geral, e do teatro, em particular, foi uma das propostas apresentadas pelo grupo Kalunga durante a realização do festival. "Foi uma participação que gostaríamos de repetir, por conseguir criar laços culturais e conhecer melhor a realidade das artes cénicas de outros países”.

O convite aos grupos, frisou, representou o reconhecimento pelo trabalho que têm feito e das boas relações de amizade existentes com os parceiros moçambicanos. "Precisamos continuar a estreitar as relações e cooperar mais, não apenas com os moçambicanos, mas com outros festivais da região”.

O Kalunga Teatro, fundado aos 20 de Setembro de 1999, na cidade de Luanda, com o objectivo de estudar a formação cultural do país e repercussões sócio-culturais, com um repertório e técnicas próprias de uma concepção antropológica, bem como colocar à disposição do público os resultados das suas pesquisas para fins educativos, formativos e informativos (em espectáculo convencional e ou comunitário).

O Kalunga Teatro já exibiu mais de 20 peças teatrais, entre as quais se destacam "Paixão Maluca”, "Universo Perturbado”, "Quem te faz feliz”, "As Caladas são Perigosas” e "Nasço ou Não?”. o grupo já participou em vários festivais, designadamente, Amostra de Teatro da CPLP, Prémio Cidade de Luanda, FESTECA, Festival de Teatro do Rocha Pinto e agora está, pela primeira vez, no Circuito Internacional de Teatro. O grupo é dirigido pelo encenador Victor Suama.


Parcerias  em Maputo

Os grupos  angolanos de teatro Pitabel, com a peça "A Fronteira do Asfalto”, e o Kalunga Teatro, com a peça "O Rei Sem Coroa”, puderam firmar parcerias e criar novos factos culturais durante a participação na 19ª edição do Festival Internacional de Teatro de Inverno (FITI). Os angolanos actuaram no espaço Casa Velha, em Maputo.

Na ocasião, grupos e companhias de países como o da África do Sul, Portugal, Cabo Verde e Brasil manifestaram o desejo de participar numa das edições do Circuito Internacional de Teatro (CIT), evento promovido, anualmente, pelo projecto "Cultura Para Todos”, uma iniciativa do grupo Pitabel.

Segundo o responsável do grupo, Adérito Rodrigues "BI”, a participação da companhia serviu, igualmente, para firmar parcerias no domínio da formação artística. Deste modo, admitiu, as companhias de teatro que representaram Angola no festival de Maputo partem com o sentimento do dever cumprido, tendo em conta as expectativas alcançadas. "Agradecemos à Associação Cultural Girassol, or- ganizadora do FITI, à TAAG, ao Jornal de Angola, único órgão que noticiou todos os acontecimentos, desde a preparação à realização dos espectáculos, à Artitude Lda, Ciry Designer, familiares, amigos e demais parceiros que apoiaram directa e indirectamente a participação das delegações angolanas no festival”.

Durante os dias que os grupos angolanos permaneceram em Moçambique, foram aproveitados para participar em seminários e oficinas artísticas que abordaram temas como criação artística e a produção da oitava edição do CIT.  Foram, igualmente, aproveitados para formalizar alguns convites também aos grupos de outros países para participarem no CIT.

Durante os debates e oficinas realizadas no festival, os grupos nacionais (Pitabel e Kalunga) propuseram os temas "A Produção Teatral”, "Direitos de Autor”, "A Dança Contemporânea e o Teatro”, "Arte Performativa Africana”, "Teatro de Hoje e sua Especificidade”, "A Música e o Teatro”, "Importância da Formação para as Artes em Geral e em Particular para o Teatro” e "As Artes Plásticas e o Teatro”.

Durante a estadiaem Maputo, realizou-se um encontro entre as direcções promotoras dos festivais FITI e CIT, para acertar os detalhes de um memorando de parcerias que deve ser formalizado no mês de Setembro, em Luanda. As partes vão assinar um protocolo de cooperação para assegurar a realização de actividades e iniciativas destinadas à identificação, estudo, conservação, valorização e divulgação de trabalhos produzidos pelos respectivos festivais, por forma a criar um acervo sobre as artes cénicas e promover a cultura dos povos.


Preconceitos sociais e raciais

Preconceitos  sociais e raciais foi o pano de fundo da primeira peça exibida, na sexta-feira, na Casa Velha, com o tema "A Fronteira do Asfalto”, encenada pelo grupo Pitabel, numa adaptação de um dos contos do livro "A Cidade e a Infância”, do escritor angolano Luandino Vieira, que narrou a história de um menino negro e de uma menina branca proibidos de se encontrarem pela família dela, bem como pela "fronteira de asfalto” que divide a cidade.

Os dois, depois de adultos, continuam impedidos pelas famílias de se encontrarem  por preconceitos sociais e raciais. A peça, segundo o encenador Adérito Rodrigues, marcou a plateia, por trazer à reflexão um tema ainda muito presente em várias sociedades no mundo, que tem a ver com o racismo e os preconceitos sociais. O conto, lembrou, apresentou uma abordagem sobre a história de Ricardo, um rapaz negro, limpo e educado, filho da empregada da casa de Marina, a menina loira e filha dos patrões da mãe de Ricardo. Pelo facto de ser negro, foi-lhe negado uma história de amor com Mariana.

A companhia de teatro Pitabel, vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Artes, em 2010, é constituída por 15 actores, e já encenou, entre outras, as peças "De Quem é a Culpa” e "Astrologia de Missosso”, adaptada do livro homónimo de Óscar Ribas. Para o festival, a delegação foi constituída pelos actores Lopes Filho, que faz o papel de Ricardo, Nelma Nunes (Marina), Constância Lopes (Mãe de Marina), Rosária Abreu (Mãe de Ricardo), Dilson de Sousa (Jardineiro e polícia), Neid Chinthia (voz off). "A Fronteira do Asfalto” teve a duração de 50 minutos, numa produção de Carla Esmeralda e Adérito Rodrigues. Fundado em 4 de Agosto de 2001, o colectivo de Artes Pitabel venceu, em 2006, o Prémio de Teatro Cidade de Luanda e conquistou três vezes consecutivas o troféu de melhor texto de teatro no Prémio Cidade de Luanda, em 2006, 2008 e 2009. O grupo venceu ainda o prémio DSTV-BWE em 2006 e apresentou em 2009 o melhor espectáculo de Luanda no Festival Internacional de Teatro do Cazenga.

Pedro João Cassule Manuel Manuel

• Desejo fazer parte da equipe e actuar na ária de informática. Acredito que poderi executar meus conhecimentos teóricos e práticos e ajudar no crescimento da empresa e do grupo de trabalho.

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