O contributo da República Popular da China no processo da diversificação económica de Angola e o alargamento da cooperação sino-angolana no sector cultural foram destacados, em Yuwu, pelo professor e analista político Almeida Henriques, como factores determinantes para o país ultrapassar a dependência do petróleo.
Apesar de o histórico da relação de cooperação entre a China e Angola durar 40 anos, ressaltou haver um elemento muito importante que se chama cooperação estratégica, que já leva mais de uma década (12 anos).
"Esta cooperação tem-se reflectido, fundamentalmente, na vontade de Angola em reduzir a dependência económica resultante do petróleo", lembrou.
Almeida Henriques acrescentou que até 10 anos atrás, ou pouco menos disso, o OGE dependia 60 por cento do petróleo.
"Mas, hoje, Angola está numa dinâmica de diversificação da economia e tem contado fundamentalmente com a China", assegurou.
Ainda no que ao contributo chinês diz respeito, o analista político considerou importante reconhecer o facto de "quando se precisa de reconstruir o país", após o longo conflito armado, "solicita-se uma conferência de doadores", mas a única nação do mundo que se manifestou em apoiar Angola, na altura, foi a China.
"Este país abriu as suas mãos para Angola e partimos para uma reconstrução nacional, independentemente do processo político, que era de reconciliação", reforçou o também professor da Escola Superior de Guerra, tendo esclarecido que, naquele período conturbado do processo político angolano, o país precisava, também, de requalificar os sectores rodoviário, linhas terciárias, reconstruir e erguer infra-estruturas, tais como centralidades, ao que a China se prontificou em investir em vários sectores.
"Há um elemento que, agora, está a dominar a relação com Angola que é, precisamente, o sector cultural. Tem sido fundamental nesta altura, em que a China tem vindo a criar uma dinâmica para que Angola se aproxime também neste sector não económico", elucidou, durante a dissertação.
Formação do homem
Almeida Henriques valorizou, ainda, na cooperação sino-angolana, o facto de jovens estudantes formarem-se na China e, depois, regressarem com "know-how" capaz de satisfazer os interesses nacionais.
Realçou ser, essa, a dinâmica que Angola está a criar para com a China, tendo em vista os desafios de garantir a estabilidade necessária. Admitiu, nesse particular, que o país asiático tem correspondido com aquilo que são as necessidades de Angola.
"As relações entre os dois Estados têm sido reciprocamente amistosas, porquanto se sabe a China também, na sua diplomacia económica, não impõe regras do ponto de vista político, facto que é fundamental para os Estados africanos", sustentou.
Disse, ainda, Almeida Henriques, que a China se enquadra na perspectiva histórica angolana, relativamente às relações Estado-Estado, revelando que o "gigante" asiático tem sido capaz de compreender que as relações que estabelece com Angola "são mais de âmbito económico e cultural".
O analista político reconheceu, igualmente, ser avultado o investimento chinês em território nacional, tendo sublinhado que, em contrapartida, o país tem conseguido reduzir a sua dívida com a China, facto que garantiu demonstrar a existência do comprometimento de Angola.
"Este cenário de seriedade do Estado angolano vai motivar cada vez mais a China a investir em Angola, porque independentemente daquilo que é a nossa realidade económica, o Estado angolano é sério e comprometido com os seus compromissos internacionais", acrescentou.
Relação sino-africana
A postura de África perante a China, de acordo com o analista político angolano, aconselha uma maior reflexão do continente sobre o que realmente pretende.
Esclareceu que a China pode oferecer um campo aberto em vários sectores de investimento, mas alertou para a necessidade imperiosa de cada Estado africano avaliar as características próprias da sua sociedade política.
"Penso ser nesta perspectiva que nós, os africanos, teremos de escolher o que é que a China pode levar para este ou aquele Estado, em contrapartida para gerar desenvolvimento", argumentou.
Almeida Henriques referiu que, no caso de Angola, há sectores diversificados, entre eles a Agricultura, Agroindústria e também as Tecnologias, que estão a dominar o mundo e a China está entre os países com grande potencial para oferecer neste aspecto.
Elucidou, ainda, que outros Estados também têm procurado relacionar-se com a China, sobretudo, em sectores que consideram ser aqueles em que se reconhece haver daquela nação asiática enorme capacidade de poder ajudar a desenvolver-se.
"Há, também, um elemento muito importante que precisamos de sublinhar, que é o facto de os Estados africanos aproveitarem os momentos altos que a China vai oferecendo neste momento, porque se não aproveitarem, voltaremos a reflectir num passado onde as relações beneficiavam mais outros Estados e os africanos não", alertou.
Sublinhou estar-se pe-rante uma diplomacia económica resultante do "soft power", em que nenhum Estado africano poderá reclamar das insuficiências na sua relação com a China.
Cada Estado deve criar condições suficientes para que consiga alcançar os seus objectivos, disse, apelando para a importância de o continente africano estudar as relações recíprocas e vantajosas com a China.
"Não pode haver apenas uma intenção direccionada numa cooperação que depois gera uma desvantagem no continente africano. Este elemento é fundamental", enfatizou.
Nesta perspectiva, ressaltou que os países africanos já conseguiram observar que o investimento chinês no continente vai apresentando estatísticas evolutivas e que são desejáveis.
"De qualquer forma, precisamos de abrir mais sectores e temos de formar o homem", sugeriu o analista político angolano, que aplaude o facto de a China, independente da sua língua local, proporcionar uma abertura para o aprendizado do inglês.
"Quer dizer que a China está atractiva do ponto de vista da cooperação internacional e a África deve aproveitar", assegurou.
O que se deve tirar de exemplo chinês, de acordo ainda com o docente universitário, é a aposta na formação de recursos humanos, para que depois não se dependa do exterior.